Eram 23 horas do dia 23 de junho
quando o telefone do Recicla Leitores toca. E do outro lado da linha uma voz
rouca, porem calma.
- Alô ? Gostaria de falar com a
Victoria. Ela está?
- Sim, pois não? Aqui é o pai da
Victoria e ela não está.
-É que eu comprei o jornal O São
Gonçalo de hoje e veio uma reportagem de uma menina chamada Victoria que esta
querendo criar uma biblioteca comunitária, então gostaria de falar com ela,
pois tenho uma doação.
Matéria do O São Gonçalo sobre Victoria Wölbert no dia 23/06 |
- Então eu posso ajudar. Pois
não?
- Sou um senhor de 71 anos e me
impressionou muito a historia contada na matéria e gostaria de todo meu coração
contribuir para o projeto dessa menina.
A principio pensei que o senhor fosse falar
que tinha livros em suas estantes e gostaria de se desfazer deles para o
projeto, mas aquela ligação, aquela hora, era muito mais preciosa do que uma
biblioteca abarrotada de livros.
- Queria saber o endereço de
vocês para que possa mandar pelo correio um poema de minha autoria que fala sobre
a importância do livro na vida de uma pessoa.
Pausa na minha voz, por segundos fiquei mudo. Muita coisa passou
naquele instante pela minha cabeça. Aquela hora da noite e aquela voz rouca
desconhecida me pedindo o endereço. Será que aquela voz sem rosto e corpo falava
a verdade?
Então, depois dessa pausa pequena,
mas para mim uma eternidade, comecei a puxar papo antes de confirmar o
endereço. Disse-me que se chamava Marco
de Faria Luz, mora em Santa Rosa, Niterói e é um senhor de 71 anos que sofre com a solidão, mas adora escrever poemas e quando viu no jornal a menina que
adorava livros e disseminava o habito da leitura lembrou de um poema que tinha
feito no ano de 2003 que narra a importância do livro em abrir os olhos das
pessoas para o mundo.
- Há tempos procuro alguém para
passar esse meu poema, e a até hoje não via em ninguém a correta utilização
destes versos. Mas hoje a sua filha me provou que é merecedora desse tal gesto.
Aquelas palavras foram como uma
faca cortando-me o coração. Eu não tinha mais o que temer naquela
mansa e rouca voz que já tinha um nome. O senhor Marco
ganhou a minha confiança e o meu respeito. Antes de passar o endereço,
fiz o meu ultimo questionamento.
- O senhor me permite que ao
receber o seu poema eu compartilhe-o para todos os meus amigos e diga quanto foi importante o seu gesto?
Agora a pausa no telefone mudou
de lado e se pudesse ver a imagem através daquele aparelho veria a alegria no
olhar de Marco.
-É claro que pode, ficarei muito
honrado com isso.
Então MARCO, estou aqui
escrevendo o quanto você me deixou feliz naquela quase madrugada de
segunda-feira e mais feliz ainda, hoje, quando peguei na portaria o envelope
pardo escrito em letras garrafais onde dentro contem o verdadeiro tesouro que
enriquece a humanidade.
“O livro é como a liberdade de ser.
Alma da humanidade, curiosa, inquieta.
O livro nos livra e nos prende, é só se
convencer.” Marco de Faria Luz
Texto: Alex Wölbert
Poema na integra de Marco Luz |
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